A corrida tem se tornado uma atividade física com cada dia mais adeptos devido à facilidade de sua prática, pois não exige uma estrutura complexa, bastando apenas disposição e tempo.
Entretanto, correr não e tão simples quanto se imagina, sendo que a facilidade da sua pratica é inversamente proporcional à dificuldade da sua execução, pois, em que pese bastar colocar um tênis e enfrentar um parque, fazê-la de forma correta exige varias técnicas, tais como respiração correta, formas de pisada, postura ideal entre outros.
Estudos recentes mostram que 90% dos praticantes de corrida possuem algum tipo de lesão, porém, apesar deste elevado índice, a corrida em si não é o problema, mas sim as alterações biomecânicas e a fraqueza de musculatura estabilizadora, principalmente do quadril, o que leva a instabilidades em importantes articulações envolvidas na corrida, como joelho, tornozelo, pé e o próprio quadril.
Vale ressaltar que as lesões mais frequentes dessa prática são:
- Fascite Plantar:
É caracterizada por uma inflamação do tecido da sola do pé, que ocorre pelo esforço excessivo da região. Esse tecido é denominado fáscia plantar, que se estende do calcâneo (osso que forma o calcanhar) aos dedos. Esta fascia, junto com o músculos tibial anterior tem a função de manter o arco plantar, e tanto a corrida quanto a caminhada aumentam a força exercida sobre o pé, ainda mais quando essa sobrecarga ultrapassa sua capacidade de absorver o trauma gerando assim a dor. O estresse da fascia plantar e do tendão de Aquiles associado a fraqueza do músculos tibial anterior pode levar ao desabamento do arco plantar gerando uma tensão excessiva nesse tecido e consequentemente sua inflamação ou ate mesmo um esporão de calcâneo.
Outras causas da fascite plantar são:
– Alterações na formação do arco dos pés (Pé chato) ;
– Pisada errada (alteração entre ante-pé e retro-pé) ;
– Encurtamento do tendão de Aquiles e da musculatura posterior da perna;
Formas de evitar:
– Fazer uma avaliação prévia do pé;
– Fortalecimento da musculatura da região plantar;
– Aquecimento leve, antes de iniciar a corrida;
– Alongar sempre após a corrida;
– Fazer uso de palmilhas funcionais especificas para cada tipo de pisada corrigindo as alterações a fim de minimizar o estiramento da fáscia;
Tratamento:
Não existe “receita de bolo“, o tratamento será sempre individualizado a partir de uma avaliação para saber qual ou quais os fatores que levaram a inflamação da fáscia plantar.
Fazer compressa quente e passar o pé sobre uma bolinha na região ajuda a relaxar a fáscia e diminuir a dor, porem é importante procurar um Fisioterapeuta para fazer o tratamento correto e indicado para cada caso evitando reincidiva da lesão.
Em alguns casos o uso de antinflamatorio faz-se necessário.
- Canelite :
É caracterizada por dor ou desconforto devido a inflamação da tíbia que é o principal osso da perna. Esta dor ocorre no terço distal da tíbia na região antero-medial.
Esta inflamação ocorre principalmente pelo uso excessivo dos músculos flexores do tornozelo. Entretanto quando a dor ocorre na parte antero-lateral da canela, ela esta associada a uma inflamação do nervo fibular profundo quando muitas vezes é diagnosticada como a canelíte.
Embora esse seja um diagnostico errôneo, essa lesão é mais frequente do que a própria canelíte, ocorrendo devido ao excesso de exercício, que aumenta a pressão na musculatura levando a diminuição do fluxo sanguíneo dos músculos e nervos, impedindo a oxigenação e nutrição dos mesmos causando o surgimento das dores.
Forma de Evitar:
Antes de começar a pratica da corrida, o ideal é procurar um fisioterapeuta para fazer uma avaliação postural e um trabalho de equilíbrio postural e muscular, além de procurar um profissional de educação física para ensinamento da técnica de corrida, prescrição e acompanhamento dos treinos.
Tratamento:
Com a dor instalada será inevitável a interrupção da corrida para evitar que a lesão aumente ou se mantenha.
Somente na hora da avaliação o fisioterapeuta terá a capacidade de traçar o melhor tratamento, de acordo com as disfunções e/ou alterações identificadas.
- Entorse de Tornozelo:
O principal motivo da entorse é a fraqueza dos músculos estabilizadores do quadril, fazendo com que ocorra instabilidade e consequentemente um deslocamento (movimento de deslizamento entre os ossos do tornozelo) lateral maior do que o suportado pela articulação do tornozelo. Porém também pode ocorrer de forma traumática, devido ao excesso de inversão (virar o pé para fora bruscamente).
Na maioria dos casos não ocorre grandes danos às articulações, mas pode gerar maior sensibilidade ou dor no pé durante a pisada.
Dependendo do grau da entorse pode haver estiramentos (Grau I), ruptura parcial (Grau II) ou ruptura total (Grau III) dos ligamentos.
Forma de Evitar:
Manter os músculos estabilizadores ativos para que tenha boa mecânica corporal, diminuindo as chances de lesão.
Tratamento:
No primeiro momento o tratamento será realizado para diminuir o edema, comprimindo e aplicando gelo (durante as primeiras 48 horas), em alguns casos ha necessidade de imobilização com gesso ou bota imobilizadora.
Também é necessário diminuir o apoio do pé quando houver muita instabilidade.
Fisioterapia para melhora de mobilidade e fortalecimento da musculatura estabilizadores.
Em casos mais graves de ruptura de ligamento, tem-se a necessidade de cirurgia.
- Joelho:
Muito comum também entre os corredores é a dor na Região do Joelho.
O Joelho é composto das articulações: FEMUR/TIBIA E FEMUR/PATELA ;
4 ligamentos: cruzado anterior e posterior , colateral media e lateral;
Além da cartilagem articular e da membrana sinovial que produz o liquido sinovial, responsável pela lubrificação do joelho.
Quando sentimos alguma dor no joelho durante a corrida, precisamos saber se a dor é de origem articular, ligamentar, tedinosa, meniscal ou mesmo por diminuição do liquido sinovial.
Qualquer alteração na articulação do joelho, pode interferir nas outras estruturas podendo levar a instabilidade e padrão de movimento errado, aumentando a fator lesionar que pode causar limitação de movimento e ate mesmo a dor.
Forma de Evitar:
Fazer um trabalho prévio de fortalecimento dos músculos estabilizadores do quadril e joelho, sempre acompanhado por um profissional qualificado, e fazer uma avaliação para saber como esta o padrão de movimento do joelho, pois se já existir um padrão errado, a chance de ter lesões durante a corrida será muito maior.
Tratamento:
O plano de tratamento será realizado após avaliação do Fisioterapeuta que identificara qual ou quais tecidos foram lesionados e assim indicar o melhor tratamento.
O detalhamento das patologias se faz necessário para o melhor entendimento de como ocorrem as lesões, corroborando com a ideia de que a instabilidade é a grande geradora das lesões e não o ato de correr em si.
Para que esse índice de lesões diminua e a atividade da corrida deixe de ser vista como vilã e passe a ser mais prazerosa e ainda mais atrativa deve-se fazer uma boa avaliação postural e podal para a correção das possíveis alterações biomecânicas e ainda um trabalho específico de fortalecimento dos músculos estabilizadores das principais articulações.
Insta lembrar que este tratamento deve ser feito de forma individualizada e por profissionais especializados, pois cada atleta tem suas disfunções e limitações, não existindo protocolos de tratamento.
Conclui-se então que a procura por uma equipe multidisciplinar para prevenção de lesões garante um maior rendimento e melhor qualidade na corrida, evitando dores e até mesmo a interrupção da prática desta atividade física excelente e de fácil acesso.
Daniel Belesa Baracho é Fisioterapeuta / Osteopatia
Muito legal o artigo. Saber das lesões e como evitá-las é muito importante.
Informações muito valiosas, permitindo-nos avaliar os riscos ante de iniciar e/ou dar continuidade na atividade. Melhor recuperar seguindo as prescrições para que a lesão não se torne crônica.